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Mecanismos de transferência de calor

Módulo 3 – Transferência de calor: Condução, Convecção e Radiação

A transferência de calor é um fenômeno que ocorre naturalmente sempre que há diferença de temperatura entre um ou mais meios. Por fim de classificação, a transferência de calor pode ocorrer através de três modos: condução, convecção e radiação.

Modos de transferência de calor

Em uma visão geral, os modos de transferência de calor podem ser rudimentariamente descritos como:

  1. Condução: Transferência de calor através do contato de partículas de dois meios estacionários.
  2. Convecção: Transferência de calor através do contato de partículas em ao menos um meio em movimento.
  3. Radiação: Transferência de calor através da emissão de ondas eletromagnéticas.

Condução: mecanismo físico

A transferência ocorre através da colisão de partículas mais energéticas com partículas menos energéticas, transferindo momento no instante de contato.

transferência-calor-conduçãoTransferência de calor através de condução

Convecção: condução e advecção

A primeira etapa da convecção faz uso do mesmo mecanismo de transferência de calor da condução, isto é, a colisão entre partículas com maior energia a partículas com menor energia. Já a segunda etapa, dado que há movimento de partículas, as partículas aquecidas tendem a ‘flutuar’ através do aumento da força de empuxo pelo aquecimento, trocando de posição com partículas menos quentes. Esse ciclo de advecção implica em uma maior transferência de calor.

Convecção forçada e natural

Ademais, a convecção pode ser natural, ou seja, surgir em virtude da própria transferência de calor, como explicada pela advecção via aquecimento natural. Dito isso, a convecção pode ser estimulada forçadamente, por exemplo, ao introduzir um ventilador a um trocador de calor.

convecção-natural-forçadaTransferência de calor através de convecção forçada e natural

Nomenclaturas

  • $ q $ – Calor [J]
  • $ \dot{q} $ – Taxa de transferência de calor [$W$]
  • $ \dot{q}’ $ – Potência linear [$\frac{W}{m}$]
  • $ \dot{q}’’ $ – Fluxo de calor [$\frac{W}{m^2}$]
  • $ \dot{q}’’’ $ – Densidade de potência [$\frac{W}{m^3}$]

Lei de Fourier

  • \(\large\dot{q}\_{x} = -kA\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\)
  • \(\large\dot{q}_{x}''=\frac{\dot{q}_{x}}{A}=-k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\)

Equação de difusão de calor

\[\large\frac{\partial{}}{\partial{x}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\right) + \frac{\partial{}}{\partial{y}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{y}}\right) + \frac{\partial{}}{\partial{z}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{z}}\right) + q*{g}''' = \rho{}C*{p}\frac{\partial{T}}{\partial{t}}\]

Condução em parede plana

No cenário onde a condução ocorre de maneira unidirecional, pode-se reduzir a equação de difusão de calor para: \(\frac{\partial{}}{\partial{x}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\right)=0\). Como \(\dot{q}_x''=-k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\), logo \(\frac{\partial{q''}}{\partial{x}}=0\). Então, \(\dot{q}_x''\) ou \(-k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}\) é constante.

Integrando a equação obtida anteriormente em x, obtêm-se:

  • \(\int{-k\frac{\partial{T}}{\partial{x}}dx}=\int{Cdx}\)
  • \(T(x)=C_{1}x+C_{2}\)

Assim, nota-se que a temperatura varia de acordo com a distância percorrida dentro da parede unidimensional, em função de x (distância).

condução-parede-unidimensionalCondução em parede unidimensional

Equação: temperatura total em função da distância

Tal que, de forma ingênua, pode-se deduzir uma equação simplificada para a transferência de calor via parede unidimensional:

\[\large{}T(x)=(T*{2}-T*{1})\frac{x}{L}+T\_{1}\]

Essa equação, todavia, prevê uso em condições específicas, como:

  1. Condução unidimensional;
  2. Regime estacionário;
  3. Parede plana;
  4. Sem geração de calor;
  5. Condutividade térmica (k) constante.

Neste caso, espera-se que a transferência de calor deva comportar-se linearmente conforme x se aproxima de L.

Equação: transferência de temperatura por condução

Ignorando o coeficiente linear na equação para determinar a temperatura total, pode-se especificar a modelagem da equação de transporte:

\[\large{}q*{x}=-kA\frac{dT}{dx}\approx{}kA\frac{T*{1}-T\_{2}}{L}\]

No mesmo sentido, pode ser modelada a equação de fluxo de calor a partir da equação da taxa de transferência:

\[\large{}q*{x}''=\frac{q*{x}}{A}\approx{}k\frac{T*{1}-T*{2}}{L}\]

Analogia com circuitos elétricos

Assim como na lei de OHM, pode-se fazer uma relação similar entre a taxa de transferência de calor, a diferença de temperaturas e a resistência térmica. De tal forma, que muitos problemas podem ser simplificados ao montar um ‘circuito térmico’, que permite juntar resistências térmicas de diferentes materiais em uma conta unificada.

analogia-circuitosAnalogia de circuito térmico com circuito elétrico

Isolando na equação de transferência, pode-se obter as resistências:

  • Resistência à condução: \(R_{condução}=\frac{L}{kA}\)
  • Resistência à convecção: \(R_{convecção}=\frac{1}{hA}\)
  • Resistência à radiação: \(R_{radiação}=\frac{1}{h_{r}A}\)

Sistemas radiais

O estudo de sistemas radiais é muito interessante, por exemplo, para a modelagem da transferência de calor em dutos e maquinários. A lei de Fourier pode ser modificada para coordenadas cilíndricas com esse objetivo:

\[\large\frac{1}{r}\frac{\partial{}}{\partial{r}}\left(kr\frac{\partial{T}}{\partial{r}}\right) + \frac{1}{r^2}\frac{\partial{}}{\partial{\phi}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{\phi}}\right) + \frac{\partial{}}{\partial{z}}\left(k\frac{\partial{T}}{\partial{z}}\right) + q*{g}''' = \rho{}C*{p}\frac{\partial{T}}{\partial{t}}\]

Aplicando as mesmas simplificações, pode-se definir equação em função do raio, simplificando-a para problemas mais simples. Nesse caso, nota-se igualmente que um dos fatores deve ser constante para comportar as derivações.

\[\large{}kr\frac{dT}{dr}=cte\]

Assim, obtêm se a família de soluções:

\[\large{}T(r)=C*{1}\left(\ln{r}\right)+C*{2}\]

De tal forma que a resistência térmica pode ser definida como, para um cilindro oco, por exemplo:

\[\Large{}R\_{t,condução}=\frac{\ln{}\left(\frac{r_2}{r_1}\right)}{2k\pi{}L}\]

radial-compositeSistema radial com paredes compostas

Formulação concentrada

A formulação concentrada é um método que permite que se calcule a transferência de calor entre um sólido e o ambiente em função do tempo ao aproximar o seu gradiente de temperaturas internas como uniforme, tal que indica a resolução de tais problemas a partir do balanço de energia.

Um exemplo no qual a formulação concentrada (também chamada de capacitância global) pode ser utilizada é para o cálculo de valores relacionados ao resfriamento de um sólido incandescente através do mergulhamento em água a temperatura ambiente, muito comum durante o endurecimento de metais.

metal-quenchingQuenching de metal em água

Neste caso, o metal é resfriado através da perda de temperatura, sobretudo por convecção, para o líquido no qual ele é imerso. A troca de calor ocorre até que sua temperatura se iguale à do líquido. Em muitos casos, é possível usar o método de capacitância global caso o coeficiente de transferência de calor do material seja alto, uma vez que a aproximação da formulação concentrada consistem em tomar \(k\to\infty{}\). Ou seja, o calor dissipado para convecção para o líquido se equilibra rapidamente na superfície interna do material.

Com essas considerações, obtemos a equação:

\[\frac{T-T_{\infty}}{T_0-T_{\infty}}=\exp{\left[-\left(\frac{h\cdot{}A_s}{\rho{}\cdot{}V\cdot{}C}\right)\cdot{}t\right]}\]

Tal que:

  • \(T\) é a temperatura final do sólido (°C);
  • \(T_0\) é a temperatura inicial do sólido (°C);
  • \(T_{\infty}\) é a temperatura constante do líquido (°C);
  • \(h\) é o coeficiente de transferência de calor do líquido por convecção (\(\frac{W}{m^2\cdot{}°C}\));
  • \(A_s\) é a área da superfície em contato com o fluido (\(m^2\));
  • \(\rho\) é a densidade do sólido (\(\frac{kg}{m^3}\));
  • \(V\) é o volume do sólido (\(m^3\));
  • \(C\) é o calor específico do sólido (\(\frac{J}{kg\cdot{}°C}\)).

E, manipulando essa equação, a energia total transferida pode ser calculada através de:

\[Q=\rho\cdot{}V\cdot{}C\cdot{}(T_0-T_{\infty})\left[1-\exp{\frac{-t\cdot{}h\cdot{}A_s}{\rho\cdot{}V\cdot{}C}}\right]\]

Por fim, é padronizado que este método pode ser aplicado caso o número adimensional de Biot – que correlaciona a resistência de condução à resistência de convecção – seja menor do que \(0.1\).

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